16 de nov. de 2008

AS PEÇAS ROUBADAS DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL EM 24 E 25/06/1937

Se voce leu a matéria postada anteriormente, sobre GUILHERME GUINLE, em uma parte do texto, em 1925, seu gesto de generosidade atingiu ao máximo, colocando a disposição dos técnicos do Museu Histórico Nacional sua rica coleção numismática para que dela retirassem todas as peças que lhes interessassem, a título de doação. Foi extraída assim, 2.310 exemplares, na sua maioria em ouro, além de muitas barras do mesmo metal, oriundas de diversas Casas de Fundição do Brasil.

Mas, para surpresa de todos, e para a infelicidade do doador pródigo, na noite de 25 de junho de 1937, foram roubadas desta coleção, 116 moedas e 17 barras em ouro, além de várias medalhas, também de ouro e ainda, títulos antigos do reinado de D. João VI e D. Pedro I do Império do Brasil.

Os gatunos que agiram durante a noite, de um sábado para domingo, e presume-se, eram conhecedores de numismática, ou ainda talvez, orientados por pessoa familiarizada com o assunto, pois, foram escolhidas as melhores peças, tanto em moedas como em medalhas, e especialmente, as melhores barras de ouro cunhadas.

Segundo ainda, os jornais da época, atribuiram o roubo à falta de vigilância, e ainda relatavam que seus autores conheciam perfeitamente a localização da sala de exposição da Seção de Numismática. Pelas mesmas notícias divulgadas, os ladrões haviam entrado pelo telhado e levado apetrechos necessários para serrar as grades e arrombar as vitrines dos expositores. Coisa bem planejada e de gente do ramo.

As autoridades policiais da época, nada conseguiram apurar e o ocorrido passou para o esquecimento.

Bem, mas o inusitado deste roubo, veio a tona 44 anos depois em 1981, um menino descobriu no quintal de uma casa no bairro do Grajaú uma das barras de ouro desaparecidas, procedente da Casa de Fundição de Mato Grosso, datada de 1818. Foi encaminhada à polícia pela proprietária do imóvel que a restituiu ao Museu Histórico Nacional.

A Revista Numismática, de 1937, nas páginas 246 a 250 relaciona as moedas e barras de ouro desfalcadas da preciosa coleção doada por Guilherme Guinle ao Museu Histórico Nacional ( dados colhidos no Gabinete de Investigações na Seção de Furtos e Roubos da Polícia Carioca), com a respectiva avaliação total do roubo em 218.000$000 ( duzentos e dezoito contos de réis).

Os dados acima, inclusive com alguns trechos que foram transcritos integralmente, foram extraídos do livro entitulado de Ensaio Biográfico de Guilherme Guinle, 1882-1960 - de autoria de Geraldo Mendes de Barros no ano de 1982.

Já sobre o mesmo assunto, o Kurt Prober, em seu livro entitulado de Ouro em Pó e em Barras, Meio Circulante do Brasil, 1754 - 1833 - publicado em 1990. Em capítulo separado como "capítulo E", dá a data do roubo no referido museu em 24 e 25 de JULHO e não em JUNHO, conforme texto anteriormente citado. Mas expõe a tona detalhes e pormenores e citam nomes de alguns envolvidos sobre o assunto, que achei por bem, publicar integralmente este capítulo para conhecimento de todos.

E - ROUBO DE BARRAS E MOEDAS DE OURO 24/25.7.1937 NO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, RIO DE JANEIRO (RJ).

Na noite de sábado para domingo, 24/25 de julho de 1937, houve um vultuoso ROUBO de moedas e de 20 BARRAS DE OURO no MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, do Rio de Janeiro, pesando só as barras mais de TRES quilos. Este roubo NUNCA foi esclarecido, e, por incrível que pareça, o seu Diretor, GUSTAVO BARROSO, chefão INTEGRALISTA, movimento este que então se preparava para arrancar o poder das mãos do Presidente GETÚLIO VARGAS, nunca mexeu uma palha, digna de nota, para a elucidação deste rumoroso caso. Estavam os "integralistas" por demais empenhados em organizar, no Rio de Janeiro, o famoso "Desfile dos cinquenta mil ( 50.000) Camisas Verdes", movimento abortado em bôa hora por GETÚLIO.
Por sinal, quando aconteceu o roubo, o Diretor Gustavo Barroso estava en viagem para o Norte do Brasil (Ceará), sendo o museu na ocasião dirigido pelo Sr. EDGAR DE ARAÚJO ROMERO, como Diretor Interino.

A primeira notícia foi, de que tinham sido surrupiadas 117 ( cento e dezessete) Moedas de Ouro e VINTE (20) BARRAS DE OURO das vitrines da Seção de Numismática, conforme foi reportado à Polícia, mas já no dia 28.07.1937 o Dr. ROMÉRO retificou, que somente 17 ( dezessete) BARRAS tinham sido furtadas, como declarou em entrevista publicada no Jornal "O GLOBO" deste dia.

O chefe de polícia do Rio de Janeiro era então o Dr. FELINTO MULLER, e as investigações correram pelas autoridades do 5º Distrito Policial. O Diretor GUSTAVO BARROSO, NUNCA prestou nenhuma declaração, mesmo depois que voltou a dirigir aquele "nosocômio...." de politiqueiros daquela época.

Em todas as investigações policiais, houve apenas DUAS pessoas indiciadas....Uma delas foi HENRIQUE CANDIDO FERREIRA, preso em 3.8.1937, logo em seguida tentanto sucídio, e cuja mulher - ROSA FERREIRA, o acusou frontalmente, mas por "motivos INEXPLICÁVEIS" nada se apurou, e o DE CUJOS pouco depois sumiu do cartaz, embora este indigitado assaltante tenha sido egresso da "Cadeia de Mar de Espanha" (MG). Funcionários e serventes do Museu foram presos, mas logo em seguida soltos, pois puderam provar sua inocência.

Mas em princípio de OUTUBRO de 1937 a polícia portenha conseguiu prender um TURISTA...que tinha visitado o Museu, na pessôa de ANDRÉS SOLARES ABELLO, que pouco depois foi embarcado preso a bordo do navio "D.PEDRO II", para ser então apresentado à polícia do Rio. No dia 20.10.1937 o navio partia de SANTOS, com o preso algemado, e às 22 horas o comandante mandou soltar o preso...., quando se estava na altura da ILHA DA MOELA. Descobriu-se, então, que o preso tinha desaparecido, e sendo aceita a hipótese, que ele se tinha atirado ao mar, ali enfestado de tubarões...

Não pode haver dúvida, que se trate de uma história "mal contada....", pois o desaparecido era um "estelionatário uruguaio" , que por ocasião do roubo estivera no Rio de Janeiro em companhia de um amigo, ERCÍLIO CARIMANDO, e que só em 29.7.1937 tinham voltado para Buenos Aires. Foi até descoberta uma carta, que SOLARES tinha escrito à dona da Pensão, da rua Corrêa Dutra, 52, no Rio, onde estivera hospedado, "...pedindo que ela fosse a polícia para declarar, que ele estivera acamado no dia 25.7.1937, dia do Roubo". Fato é que este elemento SUMIU POR COMPLETO, e sendo aceita a hipótese, que ele servira de " comida de tubarão..."

Acontece, que este melodrama, uma espécie de "ópera-bufa", teve um desfecho inesperado, em fins de abril de 1981. Noticiaram então os jornais, que havia sido encontrada uma BARRA DE OURO há um mês, ( barra esta que foi ilustrada) ( inclusive com imagem neste BLOG) enterrada no fundo do quintal da casa da rua Visconde da Santa Isabel, nº 578, no bairro do Grajaú, do Rio de Janeiro. Era a barra 1818-M-658, que em 25.7.1937 tinha sido roubada do Museu Histórico Nacional, do Rio, que, informado do achado, dei um "geito..." da peça lhe ser devolvida, conforme me informou o funcionário Sr. Câmara, pelo telefone, no dia 5.5.1981.

A casa era do Sr. Hassan Hadman, fazendeiro, e quem encontrou a barra foi o menino José de Almeida Ramos, que no dia 25.3.1981 brincava nos fundos da residência do Sr. Hassan, na ocasião em viagem no interior da Bahia. D. Alzira, esposa do Sr. Hassan, pensando tratar-se de "coisa roubada", comunicou o encontro logo à Polícia do 20º DP. A própria Polícia revolveu todo o terreno do quintal, ajudada até pela Polícia Militar, mas nada mais foi encontrado.

Declarou o dono do prédio, "ainda", que não se lembra mais de quem comprou o imóvel há uns 40 anos, ocasião em que fez obras no prédio, nada tendo sido encontrado.

Para mim esta barra, pesando 229 gr. de ouro de quase 24 quilates, deve ter sido o pagamento que um dos participantes do roubo recebeu, e este com medo de ser descoberto, preferiu enterrar a peça neste quintal, talvez depois, esquecendo o local exato ou tendo morrido. A casa fica perto da encosta de uma favela.

Eis a seguir a relação das 20 barras que teriam sido roubadas do Museu, conforme relação dada a Polícia, e que foi publicada nos jornais do Rio do dia 27.07.1937. (O Globo e Diário da Noite. Foram relacionadas sob n° 4° até 23°, não sabendo o que teriam sido os ítens 1° até 3°):

4°) - 1809 - S - 3558; 5°) - 1809 SF -4299; 6°) - 1812 - V - 531; 7°) - 1812 - S - 2388; 8°) - 1812 - S - 317; 9°) - 1813 - SF - 656; 10°) - 1813 - 2 - 347; 11°) - 1814 - S = 174; 12°) - 1814 - S - 1177; 13°) - 1814 - S - 1953; 14°) - 1815 - M - 241; 15°) - 1816 - G - 799; 16°) - 1818 - R - 202; 17° - 1818 - SF - 359; 18°) - 1818 - M - 658; 19°) - 1821 - C - 167; 20°) - 1819 - M - 102; 21°) - 1821 - G - 281; 22°) 1822 - G - 41; e 23°) 1822 - G - 229.

Nota: As barras das referências n° 11 e 21 possuiam GUIA, sendo provável que a Guia da peça 11 1814 - S - 174 ainda esteja guardada em algum arquivo. Quanto a Guia da peça 21 veja mais adiante.

IMPORTANTE: - Verificou-se depois, QUE NÃO TINHAM SIDO ROUBADAS AS BARRAS DAS Referencias, n° 4° - 8° - e 21° ( c/Guia), e tendo sido recuperada, em 1981, a barra ref. n° 18. Desapareceram efetivamente 16 ( dezesseis) Barras do Patrimônio Nacional, provavelmente FUNDIDAS pelos ladrões, e perdidas para sempre. Digo isto, porque os larápios tinham escolhido a dedo as barras mais PESADAS, como as peças de ref. 14, 15, 18. 19 e 20, pesando: 1.387, 279, 225, 262 e 179 gramas, respectivamente.

Houve muitas inexatidões nos pesos, números, quilates, etc. constantes na relação fornecida pelo Museu à Polícia, o que felizmente eu pude emendar nas respectivas fichas, pois em meus velhos guardados eu encontrei uma lista detalhada - MANUSCRITA - do Dr. Alfredo Solano de Barros, feita posteriormente, quando já se tornara funcionário graduado do Museu, lista esta, em que, com sua habitual meticulosidade, consertou todos os erros, e ainda fazendo os seus habituais comentários pitorescos.

É interessante, porém, a observação que faz sobre as barras de 1822 - G - n°s 41 e 229 ( ref, 22 e 23), das quais diz terem sido do TESOURO DE JUNDIAÍ (....que teria sido encontrado em 1916....) barras estas que teriam sido quase desconhecidas e raras ANTES do encontro deste tesouro. Só mais tarde é que se veio a descobrir, que o dito tesouro só "...teria....sido" encontrado em 16.7.1921. Ambas estas peças tinham sido doadas ao Museu pelo Dr. Guilherme Guinle.

Agora, cá entre nós, continuo acreditando que o tesouro tenha sido achado bam antes de 1921, e que o dono só resolveu "botar a bôca no trombone"mais tarde, quando já tinha conseguido vender uma grande parte, e principalmente as moedas, das quais nunca se falou, sem ter de entregar a parte devida ao govêrno de tudo que achara.

Merece mensão ainda a observação do Dr. Solano, quando cita - como TAMBÉM ROUBADA, uma BARRINHA DE OURO, fundida na Casa da Moeda do Rio de Janeiro, no tempo do Império.
n° 2409 de 8.4.1875 - Ouro - título: 965-1/2 milésimos - Pêso 87,70 gramas. Diz ele, ".....que na técnica é apenas uma curiosidade numismática, por não ser do tempo das Casas de Fundição...." Mas quer me parecer que esta peça NÃO foi roubada, pois encontrava-se numa outra vitrine, junto com duas barras do Império. E tendo encontrado em meu arquivo um "decalque" desta peça, também tirado pelo Guarda "BAIÃO". Trata-se, neste caso, de uma das muitas barrinhas que a Casa da Moeda, do Rio, mediante o pagamento de uma taxa, fundia com o ouro em pó, ou ouro "quebrado" que lhe era entregue para "fundição".

Mas lembra ainda, para finalizar, o mestre KURT PROBER: ....Mas a relação do Dr. Alfredo Solano de Barros é ainda mais interessante, pois nela achamos descritas também as outras barras do Museu, QUE NÃO FORAM ROUBADAS, e que são as seguintes:
1784 - M - 699; 1801 - S - 1752; 1804 - V - 1532; 1809 - S - 3558; 1814 - S - 174; 1818 - M - 658; 1821 - G - 281; 1828 - S - 130; 1831 - S - 105.

PORTANTO DEVE O MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, POSSUIR HOJE 9 ( NOVE) BARRAS DE OURO.

Mas a dúvida persiste, afinal, kurt Prober cita o mês de julho e já no livro de Geraldo Mendes Barros, em seu Ensaio Biográfico, cita o mês de junho. Verificando ainda, a Revista Numismática de 1937, às folhas 244, editada pela Sociedade Brasileira de Numismática, com o título "Vultuoso roubo no Museu Histórico Nacional", me parece que está dúvida esta dissipada, pois cita o mês de JUNHO. Parece que o Kurt Prober, por engano, acabou citando o mês errôneamente. A data correta, parece ser a de 24 e 25 de junho de 1937.
Mas, por via das dúvidas, vou consultar os Jornais citados por Kurt Prober, para confirmar em definitivo qual mês realmente ocorreu este famoso roubo no Museu Histórico Nacional, no ano de 1937. Tão logo tenha o resultado, divulgo aqui nesta matéria.

7 de nov. de 2008

GUILHERME GUINLE - MAIOR DOADOR BRASILEIRO DE PEÇAS NUMISMÁTICAS



Em 1939, foi instituído pelo Decreto Lei 1.706 de 27 de outubro de 1939, O LIVRO DO MÉRITO, cuja função era de inscrever para a posteridade, nomes de pessoas que fizeram a diferença, por suas "doações valiosas", ou ainda, pela reconhecida prestação de serviços relevantes e que houvessem com notoriedade, contribuído para o enriquecimento do patrimônio material ou espiritual da Nação, e merecido assim, o testemunho público do seu reconhecimento. Para isto, se prestavam com homenagens, a inscrição de grandes nomes, no Livro do Mérito.

Este mesmo Decreto Lei, foi depois, regulamentado pelo Decreto 5.244 de 07 de janeiro de 1940. O parecer da primeira indicação, data de 26 de setembro de 1941, demonstrando que a Comissão agiu com extremo cuidado, não tendo pressa em apresentar nomes. Enquanto existiu o LIVRO DO MÉRITO, não chegou sequer, a duas dezenas de nomes homenageados por seus préstimos de alto grau de reconhecimento ao País. Mas, alguns nomes de alguns cientistas, como Cardoso Fontes, e Vital Brasil, juristas como Clóvis Beviláqua e Francisco Mendes Pimentel, o sertanista, General Cândido Mariano Rondon e pessoas dedicadas à assistência social, como, Rafael Levi de Miranda e Sinhá Junqueira, ficaram inscritos.

Mas, entretanto, o primeiro nome inscrito neste Livro, foi o de Guilherme Guinle. O decreto da primeira inscrição, assinado pelo então Presidente Getúlio Vargas, estava assim redigido:

"Considerando que o Decreto-Lei de 1.706, de 1939, instituiu o Livro do Mérito, destinado a receber a inscrição dos nomes das pessoas que, por doações valiosas ou pela desinteressada proteção de serviços relevantes, hajam cooperado notoriamente para o enriquecimento do patrimônio material ou espiritual da Nação e merecido o testemunho público do seu reconhecimento; considerando que o engenheiro GUILHERME GUINLE, conforme parecer da comissão do Livro do Mérito, é merecedor dessa alta distinção, resolve: Mandar inscrever o seu nome no livro do Mérito."

O diploma, executado em litografia, desenhado por J. Wast Rodrigues, noticia a imprensa da época, achava-se encerrado em artística caixa de jacarandá entalhado, com ornatos em prata cinzelada e seus dizeres eram os seguintes: " O Presidente da República, tendo em alto apreço os merecimentos do Sr. Dr. Guilherme Guinle, em testemunho público do reconhecimento nacional pelas doações valiosas e prestação de serviços relevantes para o enriquecimento do patrimônio material e espiritual do Brasil, mandou fosse feita sua inscrição no Livro do Mérito."

Mas, afinal, o que fez de grandioso este grande brasileiro, para entrar no Livro do Mérito e ainda, como o primeiro nome inscrito neste mesmo livro com tamanha distinção e honra?. Vamos ressaltar somente os registros das doações NUMISMÁTICAS, pois além de doações de hospitais, obras de artes, dinheiro para instituições de caridade, e outras coisas mil, ficaremos dias para relacionar a importância deste brasileiro exemplar, além de numismata e grande filatelista que foi em sua época.

Só para lembrar, nasceu em 1882 e faleceu em 1960. Foi presidente da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, foi presidente da Companhia Docas de Santos, foi fundador da Usina de Volta Redonda, foi o Presidente da Fundação Gaffrée e Guinle e de foi em foi, também ficaria horas para relacionar tudo isto. Vamos nos ater somente na parte Numismática.

O prazer que este grande homem tinha em fazer suas coleções, não se encerrava em si próprio, não era apenas pessoal e egoísta, pois, com o mesmo gosto que adquiria suas peças numismáticas, e diga-se de passagem, peças raras e algumas extremamente raras e ao final de sua catalogação, ele se satisfazia, ainda mais, ao transferir por doação ao patrimônio público nacional para que servisse para a educação do povo.

Em 1921, fez sua primeira doação a Secção de Numismática da Biblioteca Nacional. Nas anotações do primeiro livro de registro de moedas, verifica-se que se compunha de 147 moedas portuguesas, que vão do reinado de D. Sancho II ( 1223-1248) a D. Manuel II (1908-1910), sendo 128 de prata e as demais de níquel, cobre e de outras ligas de metais. As referidas moedas se distribuem pelos seguintes reinados: D. Sancho ( 1223-1248); D. Fernando ( 1367-1838); D. João II ( 1481-1495); D. Manuel I (1495-1521), D.João III ( 1521-1557); D.Sebastião ( 1557-1578); D. Filipe II ( 1598-1621); D.João V ( 1640-1656); D. Afonso VI ( 1656-1683); D.Pedro II ( 1683-1706); D.João V ( 1706-1750); D. José ( 1750-1777); D. Maria I ( 1786-1799), D. Maria II ( 1834-1853), D. Luiz I ( 1867-1889); D. Carlos ( 1889-1908) e D. Manuel II ( 1908-1910).

Da coleção constavam, ainda, duas moedas da África Portuguesa: dois macutos de D. José I – 1762 e uma pataca de Moçambique. D. Maria II, octogonal, e seis moedas da Índia Portuguesa, sendo uma rúpia de D. Maria I ( cobre), cinco bazarucos de D. João V ( 1722) e cinco bazarucos de D. João V, sem data, ambos de calaim.

Em 06 de abril de 1922, foi incorporada à seção de numismática da Biblioteca, nova doação de Guilherme Guinle, constando as seguintes moedas de ouro: moedas francesas – franco a pé, de Carlos V ( 1364-1380), um agnelo de Carlos VI ( 1380-1422), um escudo com o sol, de Francisco I ( 1515-1547), uma moeda do Condado de Flandres, real de dupla águia e uma moeda do Ducado da Toscana, sequim florentino, de prata.

Quatro dias depois, registra-se, com todos os detalhes, outra grande doação de Guilherme Guinle, constante de 720 peças do Brasil- Colônia e do Brasil-Império, sendo 123 de prata e 597 de cobre. Tais moedas vão desde o reinado de D. Pedro II ( 1683-1706) até D. João VI ( as do Brasil-Colônia), as do Brasil-Império, abrangem os reinados de Pedro I e Pedro II, até o final da monarquia do Brasil.

Já no Governo de Epitácio Pessoa, em 1922, criou-se o Museu Histórico Nacional, que se instalou a 12 de outubro no antigo Arsenal da Guerra. A seção de numismática, até então na Biblioteca Nacional, transferiu-se à nova instituição e as doações de Guilherme Guinle prosseguiram com a mesma e constante generosidade.

Em 02 de outubro de 1924, foi doado um conjunto de condecorações composto de 119 peças em ouro, prata dourada, esmalte e pedras preciosas, algumas das quais raríssimas.

Já em 1925, seu gesto de dadivosidade alcança o máximo, colocou sua riquíssima coleção à disposição dos técnicos do Museu Histórico Nacional para que dela retirassem todas as peças que lhes interessassem, de que resultou a inclusão de 2.310 exemplares, na maioria de ouro, além de muitas barras do mesmo metal, procedentes de diversas Casas de Fundição do Brasil, que, como se sabe, circularam como moeda no tráfico comercial no período colonial.

Ainda mais: ofereceu o mobiliário de imbuia para a sala de exposição das moedas brasileiras, que recebeu seu nome. O batismo foi procedido de correspondência entre o diretor do Museu, Gustavo Barroso, e o Ministro da Justiça, Afonso Pena Junior, No seu ofício, Gustavo Barroso diz que, entre outros doadores, Guilherme Guinle se tornou, desde a fundação do Museu, "seu incansável protetor, tendo lhe ofertado grande quantidade de objetos preciosos e uma rica coleção de condecorações e, agora, acaba de doar uma grande sala ricamente mobiliada e atapetada para a exposição das peças da numismática brasileira e todas as peças de ouro, prata e cobre que faltavam para completar a coleção". A fim de demonstrar gratidão a tão generoso doador, resolvera denominar "Guilherme Guinle" a referida dependência.

Não cessaram, porém, as contribuições do presidente da Docas de Santos. No dia 06 de setembro de 1943, ofertou ao Museu, nova coleção, agora, de medalhas esportivas, sendo: regatas, tiro ao alvo, ciclismo, futebol, water pólo, hipismo frontão, ginástica, luta romana, corrida a pé, marcha, xadrex, e ainda, medalhas maçônicas, somando ao todo 492 peças. Na mesma data, foram doadas: 368 medalhas de instrução, 844 medalhas reliogiosas e devocionais, 281 medalhas com emblemas de associações religiosas e comemorativas estrangeiras e papalinas, medalhas portuguesas (religiosas), italianas, francesas, alemãs, espanholas, gregas. E mais, 41 jetons do Brasil e 9 jetons estrangeiros, 138 reclames monetiformes, 35 distintivos diversos, 100 distintivos estrangeiros e 210 medalhas dos seguintes países: França (54), Inglaterra ( 19), Holanda (1), Bélgica (14), Espanha (14), Áustria (13), Suíça (1), Alemanha (10), Itália (12), Rússia (6), Suécia (12), Prússia (12), Portugal (4), Papado (9), Estados Unidos (12), México (1), Chile (3), Argentina (5), Brasil (18) e preconícios do Brasil (10).

No mesmo ano de 1943, conforme ainda anotações no Livro de Registro, chega ao Museu outra doação abrangendo 1.036 peças, compreendendo medalhas comemorativas, devocionais, de instrução, de exposições, insíginias de ordens honoríficas, medalhas maçônicas, medalhas comemorativas do México, Estados Unidos, Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Vaticano, Suíça, Cruz Vermelha da Suíça, Insígnias da Ordem Constantina de S. Jorge, da Ordem da Cruz de Ferro da Alemanha e da Legião de Honra da França.

Em 1944, registrou-se, ainda, novas doações de medalhas compostas de 46 peças. Ainda no mesmo ano, na página 260, as seguintes doações do grande benfeitor do Museu: medalha e estojo do Duque de Wellington, medalha da Ordem do Templários, sob o grão-mestrado do Palaport; medalhas espanholas de D. Carlos I e D. Felipe II; medalha da campanha South Africa; medalha da batalha do Marne; medalha do mérito do Internato Coração de Maria; medalha do Ano Santo ( 1935-1936).


As doações de peças históricas se iniciaram em 1924, e além das peças numismáticas, foram doadas peças de cerâmica, armaria, iconografia, mobiliário, vidraria, prataria, montaria, insígnias, indumentária e arquitetetura.


Houve, ainda, doações a outros Museus, como o Museu Imperial de Petrópolis, Museu de Arte de São Paulo e doação inclusive, para a Academia Brasileira de Letras, neste caso, de um exemplar da edição "Princips" de Os Lusíadas. Houve, ainda, uma doação do retrato de Aleijadinho ao Arquivo Público Mineiro.


Mas todas estas doações a estes outros Museus, bem como, todas as peças já relatadas anteriormente, estão devidamente citadas numa única obra, que serviu de pesquisa para a feitura deste texto. Além da parte bem descritiva de todas as peças numismáticas que foram doadas a vários Museus, existe ainda, a descrição de inúmeras outras doações a diversas Instituições. Tudo isto compilado, no Ensaio Biográfico publicado pela Companhia Docas de Santos, com título de "Ensaio Biográfico de Guilherme Guinle, 1882 - 1960", de autoria de Geraldo Mendes de Barros editado pela Livraria Agir Editora no ano de 1982.


Esta obra é Biográfica, mas todos os numismatas deveriam elegê-la, também, como uma verdadeira obra numismática, pela riqueza de informações e, principalmente, pelas relações detalhadas de todas as peças doadas aos vários Museus.


Por toda pesquisa que fiz, pelo menos até agora, não conheço um numismata de tamanha grandeza e tamanha generosidade, em doar suas coleções em vida, para as futuras gerações, aos Museus citados anteriormente.
Guilherme Guinle foi sem dúvida alguma o mais generoso dos numismatas, e com certeza, foi o maior doador de peças numismáticas aos Museus Brasileiros.


A foto acima de Guilherme Guinle, data de 1959, extraída de uma das folhas da Obra Biográfica e agora, também, elevada a Obra Numismática, que estava escondida da maioria dos numismatas brasileiros, onde relata com pormenores, toda a vida deste grande brasileiro.
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(parte deste texto foi extraído desta importante obra, entitulada de Ensaio Biográfico e agora, conhecida pelos leitores deste BLOG, como uma verdadeira obra numismática.)


Obs. Tenho alguns exemplares originais da citada obra, de 1982, com 303 páginas, onde disponibilizo aos interessados, ao preço de R$ 120,00 com postagem incluída. Aos interessados pela cultura numismática, basta solicitar-me um exemplar, pelo e-mail: abibonds@onda.com.br .




1 de nov. de 2008

A História dos Bancos na Parahyba - Livro de Eduardo Cavalcanti de Mello

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Foi uma satisfação receber um exemplar da 1ª edição do livro " A HISTÓRIA DOS BANCOS NA PARAHYBA" lançado recentemente, em edição de 2008, pelo amigo numismata e filatelista, Eduardo Cavalcanti de Mello. Este livro dá uma abordagem iconográfica e histórica da evolução dos estabelecimentos bancários no Estado e sua comparação com a evolução da economia e do sistema bancário brasileiro e mundial.

Parabéns pela iniciativa do amigo, e sempre ressaltarei da importância dos colecionadores de além de terem o prazer, no simples "colecionar", de também nestas horas, que dispendem na organização de suas coleções, o que sempre é um momento de descobertas e ao mesmo tempo de aprendizado, terão sempre um ganho expressivo em conhecimento, e poderão assim, trazer à luz numa hora oportuna, ao meio que se vive, o resultado destas pesquisas e descobertas, em forma de publicações.

Iniciativa louvável, pois, mostra claramente que o conhecimento adquirido de suas próprias coleções, pode perfeitamente ser transferido para seus colegas que tenham o mesmo interesse. Este é o verdadeiro sentido do colecionismo, ou melhor, das pesquisas que se realizaram durante meses e até anos para se chegar neste resultado.

Recomendo a todos que procurem ter um exemplar destes, em suas coleções, pois vale a pena.

Agradeço ao amigo Eduardo Cavalcanti, por franquear-me, um exemplar com dedicatória e autografo, em 28.10.08, deste seu importante e belíssimo trabalho de pesquisa. Que tenha certeza que este exemplar enriquecerá ainda mais minha biblioteca.